terça-feira, 8 de julho de 2014

A copa foi-se embora!


A copa foi-se embora
Mas ficaram as despesas
Que iremos pagar agora
A nossa pátria, a realeza!

Despesas de um povo sofredor
Que ainda continua a ser explorado
Sem consideração, empatia ou amor
Seus sentimentos são condicionados

E até quando seremos submetidos?
Acreditando nessa infeliz ilusão?
Até quando seremos convencidos?
 Que a bola vale mais que a educação?

Enquanto acreditarmos nesse discurso
E nos rendermos aos seus encantos
Estaremos seguindo o mesmo curso
De um hino que perdeu o seu canto

 Apreciado em campo tão-somente
 Em “verde” e “ amarelo” incongruente
Sem nenhuma possível relação
Com a sociedade, a práxis, a nação!

Uma doce ilusão foi assim acreditar
Que poderíamos um dia chegar a ganhar
Esquecendo da nossa pobre situação:
Desigualdade, violência e corrupção

Insensatez foi nos deixarmos levar
Por uma ideologia, a nos conquistar
Por algo demasiadamente irracional
Inconsciente, hipnótico, superficial

   A copa foi-se embora
Mas nos deixou o seu parecer
Para fazermos agora
Sem esperar acontecer

Alvinan Magno


* Esta Poesia é uma extensão atualizada referente a poesia "Foi-se a copa" da obra Poesia e Prosa de Carlos Drumond de Andrade. 


quinta-feira, 3 de julho de 2014

A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR HISTÓRIA

                                                Entre as penas humanas, a mais dolorosa é a de prever muitas coisas e não poder fazer nada. Heródoto

           A história representa o estudo das ações do homem no tempo, que transformam a natureza originária, produzindo, assim, o mundo humano. Trata-se de uma disciplina que busca apreender através dos registros memoriais, as causas, as relações e os significados das vivências passadas, no intuito de compreender o presente, e assim, por meio da consciência, modificar o futuro. Para Diehl (2006), citado por Suassuna (2008), a história além de ser um bem cultural inestimável, com valores implícitos e explícitos, representa uma comunicação entre esses três tempos, tendo os sentidos como fio condutor. É por meio dessa comunicação que se é possível compreender os eventos passados, avalia-los, transformando-os em valores que serão integrados ao presente, alterando o futuro e sua ordem natural.
Nesse sentido, tal como coloca Suassuna (2008), estudar história significa compreender fatos e experiências inseridos em um fluxo temporal, no qual passado, presente e futuro estão interconectados. É justamente essa capacidade de interconectar os três tempos de maneira consciente que diferencia a espécie humana dos demais animais. Essa capacidade proporciona aos humanos a possibilidade de superar sua condição orgânica biológica, chegando assim as “situações-limites” e aos “atos limites”, que segundo Freire (2013) não se encontram nos animais. Sobre isso, escreveu o autor:

Não sendo o animal um “ser para si”, lhe falta o poder de exercer “atos limites” que implicam uma postura decisória frente ao mundo, do qual o ser se “separa”, e, objetivando-o, o transforma com sua ação. Preso organicamente a seu suporte, não se distingue dele. [...] A diferença entre os dois, entre o animal, de cuja atividade, porque não constitui “atos-limites” não resulta uma produção mais além de si, e os homens que, através de sua ação sobre o mundo, criam o domínio da cultura e da história, está em que somente estes são seres da práxis (FREIRE, 2013, p. 126-127).

            A partir desta afirmação, pode se dizer que a história, juntamente com a consciência, a condição que a produz, faz do homem um “ser para si”, visto que ela é uma das principais características que o diferencia dos outros animais e demais seres vivos. O homem possui a capacidade consciente de registrar suas memórias e de transmiti-la através da cultura. O homem da idade antiga será diferente, em termos históricos, do homem da idade média, e este ao dá idade moderna, o que possivelmente não acontecerá com os animais de ambas as épocas. Sendo um ser histórico, o homem aprende e conserva seu aprendizado por meio das memórias, transformando-o no decorrer das épocas.  
            O estudo da história proporciona ao homem uma postura diferenciada em relação ao passado, já que este estudo não se faz somente reproduzindo o mesmo de maneira puramente descritiva, mas se faz de maneira ativa, crítica e avaliativa, pois a história é construída por sujeitos que são, ao mesmo tempo, os autores e os produtos de um continuo processo histórico. Assim como coloca Wertheimer (1989, p. 5), a história trata de acontecimentos cujo respeito não se pode estar seguro e cuja seleção para consideração é assunto idiossincrático e subjetivo, nunca sendo imparcial. Sendo desenvolvida a partir da experiência subjetiva, ela sempre terá traços das vivências de quem a criou, por mais objetiva que pretenda ser. Nesse sentido, pode-se afirmar que:

(...) a história não é independente do historiador. Ela não é algo preestabelecido. A que evento dar ênfase, qual deles incluir ou excluir, como interpretar o que foi escolhido – tudo isso depende do ponto de vista do historiador (WERTHEIMER, 1989, p.5).

            A partir dessa consideração, pode dizer que o historiador através, da seleção e da ênfase dos fatos estudados assim como a forma que este percebe os mesmos, remonta um significado particular, integrando assim o seu conjunto de valores que são subjetivos. Ampliando esta reflexão, pode-se dizer que a história (conhecimento histórico) é produzida pela interação entre a subjetividade do historiador e a objetividade factual, ou seja, os acontecimentos históricos. Não há fatos sem sujeito, da mesma forma que não existem sujeitos sem história. Em uma compreensão ontológica, pode-se afirmar que os fatos existem em função dos sujeitos, à medida que estes lhe agregam valor. Um fato que acontece fora da percepção humana, não possuirá valor, e tampouco existência. Nesse sentido, a história representa um agregado de valores que buscam configurar sobre como um homem ou uma sociedade viveu e existiu.
            Estudar história significa compreender a essência da humanidade que se faz em um continuo processo de historização, que não se esgota, pois o ser humano sempre estará produzindo passado à medida que existe no-mundo-com-os-outros. E decifrar esse passado sempre será uma tarefa do homem do presente que buscará atualizar sua historicidade através desta atividade, criando assim condições para  atitudes que, superem o passado, e possam criar um presente autêntico.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 54 ed. rev. e atual – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

SUASSUNA, Danilo e HOLANDA, Adriano. História da Gestalt-terapia no Brasil: um estudo historiográfico. Curitiba: Juruá, 2008.

WERTHEIMER, MICHAEL. Pequena história da psicologia. Tradução Lólito Lourenço de Oliveira. – 8 ed. – São Paulo : Editora Nacional, iniciação científica; v. 34, 1989.