sexta-feira, 11 de abril de 2014

A teoria da ação dialógica de Paulo Freire (por Alvinan Magno)

O pedagogo brasileiro Paulo Freire, mesmo que não nomeado, é possivelmente um dos maiores representantes da psicologia e da pedagogia sócio-histórica no Brasil. Sua teoria, apresentada em seu livro pedagogia do oprimido, propõe uma análise das contradições sociais como pré-requisito necessário da educação. Seu objetivo metodológico consiste em trazer a reflexão concientizadora para a prática pedagógica. Freire (2013), seguindo suas raízes marxistas, propõe uma educação revolucionária e libertadora, oriunda da dialogicidade coletiva. 
     Partindo da concepção do materialismo histórico-dialético, da abordagem sócio-histórica de Vygotsky e da filosofia do diálogo de Martin buber, Freire (2013, p. 67 a 78) denuncia a situação concreta de opressão, presente no sistema educacional moderno. Ele aponta a “contradição opressor-oprimido” que persiste em tal sistema, produzindo e mantendo relações de dominação, conquista e manipulação entre aqueles que oprimem (classe dominante) e os que são oprimidos (classe dominada). Esta contradição, nunca resolvida ou superada, é camuflada pela educação, imposta aos oprimidos, que tem seus pressupostos na concepção bancária. Tal maneira de “educar-ensinar” se fundamenta na antidialogicidade, e tem o objetivo de depositar o conteúdo pré-estabelecido nas cabeças dos alunos, controlando seus modos de ser e agir, fragmentando-os de si mesmo e de seus semelhantes, alienando-os em ideologias dominantes, que camuflam a realidade social. Sobre a concepção bancária, escreveu Freire:
Sugere uma dicotomia inexistente homens-mundo. Homens simplesmente no mundo e não com o mundo e com os outros. Homens espectadores e não recriadores do mundo. Concebe a consciência como algo especializado neles e não aos homens como “corpos conscientes”. A consciência como se fosse alguma seção dentro dos homens, mecanicistamente compartimentada, passivamente aberta ao mundo que irá enchendo de realidade (Freire, 2013, p. 87).
       A concepção bancária da educação tem como principal objetivo a adaptação e o adestramento do aluno. É centrada na lógica do conteúdo, tendo o professor como protagonista, e o aluno como um mero espectador. Não é e nem poderia ser dialógica, pois sua condição de existência necessita que se negue o diálogo, a dialogicidade, pois esta poderia desvelar as contradições que haveria entre opressores e oprimidos, movimentando os alunos rumo a sua libertação. Como um instrumento ideológico, a concepção bancária se faz antidialógica, não permitindo aos homens que se humanizem na práxis de uma autêntica comunicação, e em contrapartida justifica a exploração, proliferando as desigualdades sociais.
      Como antítese dessa concepção, Freire (2007, p. 107 a 138) anuncia a concepção problematizadora da educação, que se fundamenta na dialogicidade da práxis coletiva, tendo como objetivo a libertação consciente dos oprimidos. Para o autor, o mundo cognoscível deveria ser apresentado aos alunos como problema, para que estes desafiados pelo mesmo, através da comunicação dialógica, pudessem resolvê-lo na investigação de seus temas geradores. Estes problemas, sempre relacionados à realidade histórico-social dos homens, conscientizados pelos alunos por intermédio do professor, tornam-se a essência do conteúdo programático. Sobre essa educação e seu conteúdo programático, escreveu Freire:
        
A educação autêntica, repitamos, não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e outros, originando visões ou ponto de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicitam temas significativos, a base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação (FREIRE, 2007, P.116).


    A teoria da ação dialógica de Paulo freire propõe uma nova teoria ética, crítica e política para educação, fundamentada na conscientização dialógica, como requisito básico para a libertação do oprimido e sua transformação social. Tendo como antítese a educação bancária antidialógica, cujas características são a conquistas, a focalização, a manipulação e invasão cultural, Freire (2007) propõe uma nova forma de praticar educação baseada na co-laboração, na união, na organização e na síntese cultural. Ele trás a para a prática pedagógica a perspectiva epistemológica critica da psicologia sócio-histórica, que analisa o homem e o mundo a partir das contradições históricas e sociais, tendo a dialética como método. A teoria da ação dialógica é o resultado de uma análise histórica e social da situação concreta da educação no Brasil. Propõe um novo modelo de educação, onde a participação do aluno seja integral, como autor e criador do seu próprio conhecimento. Onde o aluno se reconheça como pertencente a uma classe social, e partir dessa possa, com seus semelhantes e somente com eles, se libertar da situação concreta da opressão, emergindo revoluções culturais. 

Referência bibliográfica 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido 54. ed. rev. e atual- Rio de janeiro : Paz eTerra, 2013.